A eleição de Arthur Lira para a presidência da Câmara dos Deputados e a vitória de Rodrigo Pacheco para dirigir o Senado, ambos apoiados por Jair Bolsonaro, foram vistas como sinais claros de fortalecimento do chefe de Estado no tabuleiro político brasileiro. No entanto, essa situação é instável e depende muito da evolução da popularidade do presidente, em queda atualmente. O resultado dessa eleição mostra a fragilidade dos partidos de direita e de centro direita que não apoiam o chefe de Estado. Essa é a opinião do cientista político Gaspard Estrada, da SciencesPo Paris. “Sem dúvida é uma vitória do Executivo e do presidente Jair Bolsonaro”, lança Estrada, diretor-executivo do Observatório Político da América Latina e do Caribe (OPALC). No entanto, pondera o especialista, a questão agora é saber se essa vitória será duradoura ou não. Segundo ele, um dos elementos principais a ser levado em conta nos próximos meses será a imagem do chefe de Estado, tanto com relação à sua gestão da crise sanitária como do impacto econômico provocado por essa gestão. “Há uma tendência a deterioração da avaliação do governo Bolsonaro. A economia vai piorar nos próximos meses, inclusive porque a falta de controle da Covid-19 está se traduzindo na falta de investimento, já que os empresários não estão tendo confiança na recuperação da economia por causa da pandemia”, alerta. Diante desse contexto, os que hoje apoiam o presidente podem virar a casaca. “Nós já vimos na história da democracia brasileira que o Centrão apoia o Executivo, cobra caro esse apoio, como nós assistimos nas últimas semanas, mas também pode mudar de lado”, analisa o cientista político. “Se a economia continuar sofrendo e se a imagem de Bolsonaro mantiver sua queda, isso terá um reflexo na popularidade do presidente dentro do Congresso. Até porque os próprios parlamentares também estão pensando em suas reeleições em 2022. E apoiar um governo impopular não é popular para nenhum político”, pontua. Deputado do varejo Estrada também ressalta que o fato de Câmara dos Deputados e o Senado estarem do lado do presidente não significa que as reformas desejadas pela equipe do governo, como no âmbito econômico, vão tramitar mais rápido. “Não sei se o leque de alianças que permitiu a eleição do Arthur Lira na Câmara vai se traduzir em votos onde essas reformas terão o custo político”, avisa. A agenda de privatizações, central no programa de Paulo Guedes, é um bom exemplo. “Tenho minhas dúvidas sobre a vontade privatizadora de uma maioria política na Câmara”, diz o cientista político. Além disso, “o perfil do Arthur Lira é de uma pessoa que nunca se interessou em termos de economia e de uma agenda definida. Ele é mais um deputado do varejo”. Esquerda isolada? O cientista político também lembra que os partidos de esquerda não foram os únicos que saíram perdendo nessa eleição. “É claro que a vitória do Arthur Lira é uma má notícia para a esquerda, que tentou sair do isolamento fazendo uma aposta estratégia na candidatura do Baleia Rossi. Mas eu acho que os dois maiores perdedores desta eleição são a direita e o centro direita não bolsonarista, que na verdade mostrou a sua fraqueza política e a sua incapacidade de articular uma maioria política”, analisa. “Eu penso particularmente no Rodrigo Maia e no govenador de São Paulo, João Doria, que tinham apostado no apoio do PSDB à candidatura de Baleia Rossi. Eles são realmente os grandes perdedores desse pleito”, conclui.
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